Vazio Existencial e Languishing: apatia e desânimo

Você já deve ter ouvido o termo Vazio Existencial em diferentes contextos. Mas você sabe quando ele surgiu?

O termo foi criado em 1955 pelo neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl, fundador da Logoterapia. Segundo ele, o vazio existencial percebido na época do pós-guerra era decorrente de uma dupla perda:

1) as tradições que foram perdendo o valor e sendo derrubadas pela sociedade 

2) os instintos que deixaram de ser socialmente aceitos e tolerados. 

O indivíduo não conta mais com essas 2 fontes de ação para determinar seu comportamento e então passa a agir de 2 formas:

  1. Conformismo: o indivíduo faz o que todo mundo está fazendo. Não há ninguém impondo, mas a pessoa busca copiar o comportamento do outro. 
  2. Totalitarismo: o indivíduo faz aquilo que querem que ele faça.

Ambos os comportamentos refletem o vazio existencial e a falta de autonomia e de uma vida com sentido. Segundo Frankl, os efeitos colaterais do vazio existencial são:

  • depressão;
  • agressão (a ansiedade pode ser uma forma de agressão a si mesmo);
  • vícios (substâncias que produzem alteração de consciência ou aliviam a dor da existência);
  • excessos (sexo, trabalho, consumo, culto ao corpo, etc);

A ausência de sentido para a vida nos aproxima dos sentimentos de apatia, desânimo e definhamento. 

Em alguns momentos da vida, todos lutamos contra a desmotivação, mas o que preocupa é quando ela se instala, quando a apatia toma conta do dia a dia e perde-se força e energia para se mobilizar por algo e por si mesmo. Muitas vezes nem sequer temos consciência do que estamos vivendo ou sentimento, já que, aparentemente, tudo está bem com a saúde física, há trabalho, alimentação correta, casa, segurança, boletos em dia. 

Esses sentimentos e sensações definem o languishing, sentimento de estar definhando. O termo foi cunhado pelo psicólogo e sociólogo americano Corey Keyes como sendo o contrário de florescer. “Definhar é apatia, uma sensação de inquietação ou falta geral de interesse na vida ou nas coisas que normalmente lhe trazem alegria”. 

É um adoecimento novo e, por isso, ainda há dificuldade para identificar esse fenômeno psicológico potencializado em 2020, com a pandemia. Uma parcela da população mundial já lida com as consequências da apatia persistente, marcada pela sensação de vazio que não passa e perdura dia após dia. É como se a pessoa estivesse num estado de indecisão, incerteza, indefinição e nada a movesse para sair desse lugar. 

Corey Keyes, em sua pesquisa, constatou que cerca de 12,1% dos adultos atenderam aos critérios para definhar e que as pessoas com maior probabilidade de sofrerem grandes transtornos de depressão e ansiedade na próxima década não são as que apresentam esses sintomas hoje, mas aquelas que estão definhando agora.

O languishing é como se a pessoa estivesse anestesiada de qualquer motivação, propósito, foco. Não podemos confundir com esgotamento ou falta de esperança, pois as pessoas ainda têm energia, mas se sentem no piloto automático, sem alegria, sem objetivo, estagnadas, e essas emoções as dominam.

Qual a diferença entre depressão e languishing?

  • Depressão: tristeza constante, humor deprimido, choro fácil, alterações no apetite, sentimentos de inutilidade e pensamentos de morte ou suicídio.
  • Languishing: a pessoa passa a se sentir estagnada, vazia e monótona, alguns pacientes o descrevem como “não me sinto bem, e nem muito mal”, ou “não consigo sentir mais prazer e nem me sinto triste”.

Adam Grant, psicólogo organizacional da Wharton, escreveu sobre o tema no The New York Times e afirmou: “Na psicologia, pensamos em saúde mental em um espectro que vai da depressão ao florescimento. O florescimento é o pico do bem-estar: você tem um forte senso de significado, domínio e importância para os outros. A depressão é o vale do mal-estar: você se sente desanimado, esgotado e sem valor. O definhamento é o filho do meio negligenciado da saúde mental. É o vazio entre a depressão e o florescimento – a ausência de bem-estar. Você não tem sintomas de doença mental, mas também não é a imagem da saúde mental. Você não está funcionando em plena capacidade. O definhamento entorpece sua motivação, interrompe sua capacidade de se concentrar e triplica as chances de você reduzir o trabalho. Parece ser mais comum do que a depressão – e, de certa forma, pode ser um fator de risco maior para doenças mentais.”

O que podemos fazer diante desse cenário?

Para Adam Grant, o definhamento não está apenas em nossas cabeças – está em nossas circunstâncias, na nossa cultura e sociedade. “Ainda vivemos em um mundo que normaliza os desafios da saúde física, mas estigmatiza os desafios da saúde mental. À medida que nos aproximamos de uma nova realidade pós-pandemia, é hora de repensar nossa compreensão de saúde mental e bem-estar. ‘Não deprimido’ não significa que você não está lutando. ‘Não triste’ não significa que você está empolgado. Ao reconhecer que muitos de nós estão definhando, podemos começar a dar voz ao desespero silencioso e iluminar um caminho para sair do vazio.”

Entender o languishing de forma sistêmica nos ajuda a ter consciência e criar nossas estratégias de para evitar ou reverter esse sentimento. Algumas dicas de ações que podemos colocar em prática:

  1. Fazer pausas

Pode parecer contraproducente, mas permitir-se sair do piloto automático, desconectar-se, parar e ter “tempo livre adequado” pode ajudar nesse processo. 

  1. Permitir-se desfrutar

Busque realizar atividades que lhe dão prazer, explore e experimente novos interesses. O que vale é estar presente, desfrutando e apreciando aquilo que está fazendo. 

  1. Mudar de cenário

Aqui o mais importante é criar cenários fora do mundo digital. Reforme sua casa, mude os móveis de lugar, se possível não trabalhe no mesmo cômodo que vc dorme, escolha outros caminhos para ir ao trabalho, conheça novos parques e restaurantes, cozinhe uma comida diferente, faça 1 corte de cabelo diferente.

  1. Fazer terapia

O processo terapêutico é uma grande ferramenta para lidar com as emoções ligadas ao vazio existencial e definhamento. Sair do piloto automático e ter consciência do modo em que se está operando é fundamental para lidar com a situação e prevenir transtornos como depressão e ansiedade.   

  1. Investir nos relacionamentos sociais

Relacionamentos familiares e sociais são boas fontes de apoio e pertencimento. Dividir nossos sentimentos com outras pessoas e compartilhar experiências em grupos ou comunidades podem amenizar o sentimento de vazio e potencializar uma vida com mais sentido. 

É importante estarmos atentos aos nossos sentimentos e das pessoas que nos cercam para que possamos lidar melhor com esse novo estado emocional.  

Para saber +:

O Vazio Existencial segundo Viktor Frankl (youtube).

Are You Languishing? Here’s What To Know (verywellmind.com).

Entenda o languishing: entorpecimento da vida e sensação de vazio (correio braziliense).

Compartilhe nas redes sociais

Share on facebook
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email